15 de jun. de 2012

COLORINDO CANÁRIOS SEM FATOR VERMELHO


João F. Basile da Silva
Revista SOV 2004

Arquivo editado em 22/05/2005

As cores dos canários são o produto da interação de dois fatores de cor que nós chamamos de melaninas e lipocromos (estão no plural porque considera-se a existência de mais de um tipo de cada um deles). O efeito visual que nossos olhos podem perceber, é o resultado da combinação desses fatores de cor.

A alimentação e os aditivos alimentares tem pouca influencia em relação à qualidade das melaninas , sendo os fatores genéticos os mais importantes em relação à sua expressão. Quando se trata dos lipocromos dos canários, a alimentação bem como os aditivos alimentares tem enorme influencia na sua qualidade e manifestação. O maior exemplo disso ocorre nos canários chamados de "com fator vermelho", através do uso da cantaxantina, o que é do conhecimento da grande maioria dos canaricultores. Para esse aditivo alimentar, existe já uma pratica definida com relação à dosagens, época de uso, e outros cuidados que possibilitam aos criadores a obtenção dos exemplares desejados.

Os canários chamados de "sem fator vermelho", com exceção dos brancos (que não possuem lipocromo), tem sua expressão lipocromica definida pela alimentação e regida pêlos fatores genéticos envolvidos. O que define a cor de um lipocromo é a combinação de pigmentos corantes chamados de carotenóides e que estão presentes em maior ou menor quantidade em uma grande variedade de alimentos. Uma prova disso, é o próprio canário branco, que só é branco porque possui um "defeito" genético que o impede justamente de fazer com que esses pigmentos se depositem nas células de suas penas. Sabe-se também que se colocarmos um canário amarelo sob um regime alimentar isento de carotenóides, após o término de todas as reservas do tecido gorduroso (esse pigmento é depositado inicialmente nesse tipo de tecido), na muda seguinte esse canário se tornará branco. Uma vez que os fatores genéticos determinaram primordialmente a capacidade de depósito dos pigmentos na plumagem dos canários, influenciando-o tanto de maneira quantitativa como qualitativa, nos resta então, por meio da alimentação tentar otimizar esse processo e obter as tonalidades desejadas e exigidas pêlos manuais de julgamento. Em outras palavras, partindo-se de um plantei com qualidade genética superior, podemos por meio da alimentação influenciar para melhor (ou para pior) o resultado desejado.

Com os campeonatos se tornando cada vez mais competitivos, com a melhoria dos planteis, aliados a criadores mais técnicos e bem informados, os desempates tem ocorrido em faixas de detalhes cada vez mais estreitas. Com isso, o manejo da alimentação dos canários sem fator com o objetivo de se obter um lipocromo ótimo, se toma obrigatório. Nos canários com fator, a receita é relativamente simples : quanto menos carotenóides e mais cantaxantina (até a dose ótima), melhor deve ser o resultado. Nos canários sem fator, a coisa se complica bem mais, pois para começar temos três "tipos" de lipocromos envolvidos (amarelo, amarelo marfim e branco dominante) e vários tipos de carotenóides envolvidos em concentrações desconhecidas. Um criador que possua essas três variantes de lipocromo em seu plantei, não deve submete-las ao mesmo regime alimentar, pois se sabe que um amarelo marfim precisa de um aporte maior de carotenóides na sua alimentação para melhor expressar suas qualidades. Um branco dominante não deve, com certeza receber esse mesmo tipo de alimentação (deve receber menos carotenóides), e o amarelo normal, por sua vez deve ser trabalhado com um teor intermediário entre os dias. Outro complicador em relação aos canários sem fator, é que não existe para eles nenhum aditivo alimentar que tenha sua tecnologia de aplicação dominada em termos de uso e dosagem como a que existe para a cantaxantina. Com isso, nos resta conhecer melhor os alimentos usados nas nossas criações, e dentro do possível as quantidades de carotenóides que eles aportam, pois o resultado em termos de lipocromo (seja ele bom ou ruim- suficiente ou insuficiente) é o produto direto das "coisas" que damos para eles comerem. Os carotenóides são uma classe de compostos amplamente distribuídos no reino vegetal e em algumas espécies animais. São responsáveis pêlos pigmentos de cor de inúmeras espécies como tomate, laranja, verduras, milho, gema de ovo, plumagem dos flamingos, etc. Nessa família dos carotenóides, existem mais de 500 compostos e incluem dois tipos diferentes de moléculas: os carotenos (licopeno, beta caroteno *, alfa caroteno, etc) e as xantofilas. As xantofílas são as responsáveis pela coloração da plumagem de nossos canários. Como exemplos desse tipo de carotenóide temos a zeaxantina, a cantaxantina, a luteina, a criptoxantina, etc. As análises químicas dos diversos tipos de alimentos, dificilmente discriminam quais são os tipos de carotenóides presentes nos alimentos. Normalmente os resultados indicam apenas os teores de beta caroteno (o mais estudado dos carotenóides) ou mesmo sua atividade em termos de Vitamina A (da qual alguns carotenóides são precursores).

Sabe-se também que a zeaxantina (carotenóide presente no milho amarelo, planta pertencente ao género Zea, daí o nome zeaxantina), é responsável por pigmentações de amarelo mais forte, tendendo ao alaranjado. Esse pigmento é encontrado também na gema do ovo, uma vez que as rações de galinhas são compostas em sua grande parte por milho amarelo. Existem indicações que os vegetais de folhas verdes e as sementes possuem maiores proporções de luteinas, e portanto seriam mais indicados para se obter pigmentações mais desejáveis nos canários. A tabela abaixo, nos dá uma indicação dos teores de carotenóides presentes nos alimentos mais usados na Canaricultura e pode servir como auxiliar no manejo da alimentação.


ALTO

MÉDIO

BAIXO

Milho amarelo

Cenoura

Folhas de brócolis espinafre

Gema de ovo

Colza

Nabão

Linhaça

Farelo de soja

Almeirão Chicória Acelga

Couve

Alpiste, Aveia e Níger

Milho Branco

Farelo de Trigo

Germe de Trigo

Farelo de Arroz

Leite Desnatado

Maçã

Pepino sem casca

Clara de ovo

Arroz

Como não existe comercialmente disponível ao canaricultor um tipo de Xantofila - como acontece com a cantaxantina - com tecnologia definida em termos de uso e dosagens, só nos resta tentar manejar da melhor maneira possível os alimentos disponíveis de maneira a tentarmos obter o melhor resultado possível.

Nesse manejo, alguns fatores merecem destaque:

1) A literatura mostra que nas sementes, o principal carotenóide é a luteina.

2) O ovo, milho amarelo e seus derivados são ricos em zeaxantina.

3) Quanto mais verde, são as folhas das verduras, maior seu teor de carotenóides (sabemos que o teor de beta caroteno é alto, mas não sabemos o teor das xantofilas envolvidas).

4) Canários com cor de fundo amarelo, amarelo marfim e branco dominante devem preferencialmente ser submetidos á regimes alimentares distintos em termos de carotenóides.


5) Os carotenóides "amarelos" são acumulados no tecido gorduroso dos canários, e são liberados para efeito de coloração das penas à medida que são necessários, seja na muda de penas ou na substituição de penas caídas. Isso quer dizer que a cor daquelas penas que nascerem num determinado momento, reflete a alimentação ingerida pelo pássaro nos meses anteriores. Portanto, se o canário ingeriu carotenóides inadequados anteriormente, mesmo não estando na muda, isso pode se refletir na emplumação posterior. Isso quer dizer que a alimentação adequada, deve ser fornecida com bastante antecedência em relação à muda - no mínimo à partir da separação dos pais.

6) O fator ótico para o azul é fundamental nesse manejo e é presença obrigatória no patrimônio genético de nossos canários, pois se encarrega de imprimir a tonalidade "esverdeada" nos lipocromos amarelos, quando se obtêm o desejado amarelo limão.

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